sexta-feira, 21 de outubro de 2011

PAULO FILHO GARANTE ESTAR LIMPO, VOLTA PARA NITERÓI E COMENTA DESENCONTROS COM RISCADO



Já não é novidade há muito tempo a dependência química de Paulo Filho com o medicamento Rohypnol, que levou a carreira do ex-número 2 do mundo praticamente ao fundo do poço. Após o X-Combat, em maio, quando teve performance preocupante diante de Norman Paraisy, ele se mudou para Campos dos Goytacazes, no Noroeste do Rio de Janeiro, à convite do promotor Rodrigo Riscado, para uma espécie de retiro espiritual, onde ficaria isolado de tudo e todos para se recuperar.

Nesta semana, no entanto, ele voltou para o Rio de Janeiro após desentendimentos com Riscado, que alega, entre outras coisas, que o vício continua e que Paulão teria contraído uma dívida de R$ 20 mil em rações para cachorros e em farmácias.

O PVT procurou o lutador, que concedeu entrevista exclusiva por quase uma hora, dando sua versão dos fatos. Ele garante estar limpo há mais de um mês, negou as acusações de Rodrigo Riscado – de quem cobra a bolsa do Amazon Forest Combat - e disse se inspirar no antigo rival Chael Sonnen para voltar à boa fase na carreira.

“Fiz um tratamento em Campos, com apoio do deputado Geraldo Pudim, e consegui largar a medicação. Era muito difícil, não sabia os riscos e a dependência que isso poderia me gerar quando comecei a consumir. Infelizmente dei margem para que começassem a levantar novos boatos sobre mim e achei falho da parte do Riscado dizer que queria me levar internado. Estou aqui, sóbrio, sem medicamento. Quero acertar minhas contas com ele, e está tudo certo”, disparou.

“O Sonnen é um cara um ano mais velho que eu, uma fonte de inspiração porque tem a mente muito forte e soube usar os pontos negativos da carreira para impulsionar sua volta”, completou.

Confira abaixo a entrevista completa com Paulo Filho:

PVT: Como está a situação do pagamento da bolsa do Amazon Forest Combat?

Paulão: Deixei o Riscado ficar à frente como meu empresário, ele recebeu e está me devendo o valor da bolsa. Espero que ele tenha consciência, bote a mão na cabeça. Me pagando, morre tudo. Houve um mal-entendido em relação ao evento, que pagou tudo certo, mas ele não me repassou. Eu vi quando ele foi chamado para receber o dinheiro. Estou esperando, mas minhas contas não sabem esperar, essas não param de chegar e já fui até ameaçado.

PVT: Foram passadas a nós informações de que você deve, entre outras coisas, R$ 20 mil em ração de cachorro em Campos.

Paulão: Gostaria de saber quantos milhões de cachorros tenho para gastar 20 mil em ração. Vou querer que ele prove isso tudo no papel. Porque isso não existe. Com certeza ele esperava algo em troca usando minha imagem, e isso saiu para ele, graças a Deus. Só espero que não se esqueça de mim, que pare de inventar fofoca. Eu tinha um dinheiro mensal, que recebia, e não precisava de dinheiro dele para coisa nenhuma. Minhas dívidas são antigas, por causa de outros eventos que não acertaram comigo. Não devo nada a ninguém lá, saí com a cara limpa. É tudo história dele para argumentar contra mim. É fácil tacar pedra em quem já foi apedrejado.

PVT: Você realmente está fora do Campos Combat? E quanto à luta na Polônia?

Paulão: Nem esse nem nenhum que ele faça. Meu nome foi retirado do card, ele mandou um e-mail bem grosseiro à minha namorada, com palavrão e tudo, e disse que eu não lutaria mais. Só que ele andou desfilando minha marca e fotos na cidade. Quando botei pressão, ele veio com história de me internar. Quero que o Campos Combat seja um sucesso e que ele me pague depois o que deve. Na Polônia eu luto, quem está de frente é o Fred Fontes, que será meu empresário.

PVT: E como está sua saúde agora? Muitas pessoas dizem que você deveria parar e se internar. O que acha disso?

Paulão: Estou ótimo. Esse tratamento que fiz em Campos, com apoio do Geraldo Pudim, já me deixou tranquilo. Consegui largar a medicação, o que era muito difícil. Não sabia dos riscos e dependência que poderia me gerar. Dei margem, infelizmente, às pessoas para começarem a levantar novos boatos e achei muito falho da parte do Riscado falar de internação. Estou sóbrio conversando, sem medicação alguma. Isso entristeceu as pessoas que gostam de mim, minha família. Meu pai está no final da vida dele, é a última pessoa que machucaria, não gostaria que ele soubesse que tive uma recaída em relação ao meu passado.

PVT: Então você está limpo?

Paulão: Sim, há um mês não uso medicação. A fase inicial foi muito difícil, mas tomei a decisão de que não queria mais e acabou. Tentei empurrar com a barriga esse tempo todo, mas não dá. Por amor ao esporte, à família e aos amigos do Paulo, não do Paulão, tomei essa iniciativa de me limpar completamente e poder dar uma alegria um pouco maior a quem se importa com minha vida.

Precisa tomar algum medicamento para ajudar a combater o vício de Rohypnol?

No início eu tinha que tomar, junto com a redução do Rohypnol, para não ter convulsões. As pessoas acham que é brincadeira, mas é algo muito sério. Foram 11 anos de vício, no Japão usava para dormir e depois virou rotina, não vivia mais sem aquilo, passava mal, tinha crises. Essa fase já passou, graças a Deus. Estou no zero agora, sem nada para acordar nem para desligar, 100% lúcido. Passei um drama que não quero que ninguém passe. Vi uma carreira construída e destruída por causa disso, por causa de remédios que não custam nem R$ 20. É difícil largar.

O fato de se apresentar mal recentemente, de não cumprir horários e compromissos, era por causa do remédio?

Foram problemas pessoais, ou perda de peso excessiva. Dizer que foi pelo remédio é história da carochinha. Tive queda de ânimo, sensação de abandono, por causa do remédio. Isso sim me afetou durante um tempo. No X-Combat tive um problema pessoal na véspera, explodi e disse que não iria mais lutar. Mas fui, em consideração, mesmo sabendo que poderia perder. Fui no peito, perdi 12kg naquela semana, fiquei cinco dias sem ingerir líquido ou carboidrato e bati 83kg no dia da luta. Não consegui me reidratar nem me alimentar e tive uma hipoglicemia.

Não teme que esses problemas possam te levar à morte no ringue?

Não. Nunca tive nenhuma crise que me botasse preocupado com a vida. São coisas que criaram, pessoas que queriam retorno em cima de mim. Acontecia de não ir treinar, ficar sonolento, com a mente confusa, ter convulsão... Eu me burlava, mas nada a esse ponto.

Como está a situação de saúde dos seus pais?

Estamos todos em recuperação conjunta. Meu pai faz hemodiálise dia sim, dia não, e minha mãe se desgasta muito acompanhando-o. Essa fase difícil que passamos me fizeram enxergar muitas coisas e me deram força para buscar a recuperação. Daí minha obrigação de me manter firme e forte.

E sua questão com a BTT?

O Murilo [Bustamante, líder da BTT] sempre foi um cara nota 10, assim como o Bebeo Duarte e o Zé Mario Sperry durante o período que convivemos. Luto pela BTT, mas na época [do vício] estava difícil para eu ir lá. Agora as coisas estão clareando um pouco mais na minha mente, estou voltando a pensar em ter uma rotina pesada, dura, como é lá. Naquele momento eu não dava conta de manter tratamento e rotina, e a tendência natural que segui era de fugir, se esconder. Seria ignorância da minha parte achar que com a minha performance eu poderia acompanhar uma equipe daquelas.

PVT: Você é um dos brasileiros que derrotou o Chael Sonnen e ele acabou de voltar a lutar finalizando. O que achou dessa luta?

Paulão: O Chael Sonnen tem uma cabeça muito forte. Vindo de derrota como ele vinha, voltar como voltou é algo bem bacana de se observar. É a diferença de um atleta com mente forte e mente fraca. Ele soube usar os pontos negativos da carreira para se impulsionar. Sonnen, de fato, causa perigo à nossa bandeira, ao nosso cinturão. Ele provou ser de alto rendimento, vem crescendo nas adversidades, posso observar que está cada vez melhor, com jogo mais justo, fechado, falhas corrigidas. Ele é um ano mais velho que eu e é uma grande fonte de inspiração.

PVT: Como analisa Jon Jones vs Lyoto Machida? Gostou da escolha do brasileiro?

Paulão: O Lyoto é um cara embaçado de lutar, complicado e isso tem que ser respeitado, ele leva vantagem no timing. A envergadura e o fato surpresa do Jon Jones são perigosos, mas isso vai ser complicado de usar contra o Lyoto. Ele já foi campeão da categoria, passou por altos e baixos, e, vendo de fora, acho que tem todas as armas para vencer.

Colaboração: Portal do Vale Tudo

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