terça-feira, 6 de agosto de 2013

UFC CAI NA REAL COM MERCADO BRASILEIRO


Coluna publicada hoje no jornal O Globo:
Quando desembarcou no Brasil em agosto de 2011, Dana White foi tratado a pão-de-ló pelos políticos e pela mídia. O futuro do UFC por aqui era promissor. Para estrear em grande estilo foi montado um card de peso. Dana escalou parte da nata do UFC para o evento promovido em uma arena do Rio de Janeiro. Naquele dia lutaram Anderson Silva, Maurício Shogun, Forrest Griffin e Rodrigo Minotauro. Os ingressos para as lutas se esgotaram em 40 minutos. Sucesso absoluto de público e mídia. O evento exibido ao vivo na Rede Globo rendeu uma audiência bem superior ao esperado. 

Se 2011 e 2012 foram os anos em que o UFC tomou proporções gigantescas a ponto de o Brasil ser apontado como o futuro principal mercado do MMA,  o primeiro semestre de 2013 serviu para Dana cair na real. Neste ano, o reality show do UFC viu minguar a audiência e o programa exibido aos domingos na Rede Globo agora corre risco de não chegar à terceira temporada. Dana também tem penado para arrumar cidades com estrutura que comporte o UFC. Um dia desses ele precisou apelar para Jaraguá do Sul, uma cidadezinha catarinense de 140 mil habitantes que quase não tem hotéis, mas onde a maior atração é um ginásio de ponta.  

As investidas do UFC para promover eventos em grandes estádios de futebol  nunca saíram do papel e pelo visto jamais sairão. Dana sabe que seria um fiasco ter um estádio vazio como palco das lutas. A única maneira de lotá-lo seria com um card tão espetacular quanto aquele montado no UFC Rio 1. Mas isso tem se mostrado cada dia mais improvável. E a culpa nem é do Dana e sim da burocracia brasileira.

Pouco tem se falado, mas atletas gringos e até mesmo nacionais preferem lutar nos Estados Unidos porque aqui eles perdem muito mais dinheiro com impostos. Isso tem atrapalhado os planos do UFC no Brasil. No último fim de semana, Dana promoveu o quarto evento numa arena do Rio. Ao contrário de outras edições, dessa vez quase nenhum artista deu a cara por lá e, pior, sobraram quase 3 mil cadeiras vazias das 16 mil espalhadas pela arena que serviu de palco das lutas. O card meia boca do fim de semana passado é reflexo da dificuldade em convencer atletas renomados a lutar no Brasil. E isso está irritando parte da cúpula que dirige o UFC.

No Brasil, lutadores estrangeiros e os daqui perdem 27,5% da bolsa assim que recebem o cheque do UFC. Um desconto automático e sem volta na hora do pagamento. Nos Estados Unidos também se paga imposto, mas bem menor. Anderson Silva perde cerca de 18% da bolsa quando luta fora do Brasil, me disse seu empresário Jorge Joinha Guimarães. "Meu atletas têm visto para trabalhar na América e os gastos com treino e viagens acabam descontadas do imposto de renda por lá, por isso, na prática, eles perdem uns 18% com essas taxas e só precisam prestar conta ao fisco no fim do ano", explicou Joinha.  

Hoje em dia quase todo brasileiro contratado pelo UFC tem visto de trabalho americano ou green card. Ou seja, tanto para atletas nacionais quanto para os gringos é bem mais lucrativo lutar nos Estados Unidos. 

Dana está mirando o alvo do UFC para mercados promissores e bem menos burocráticos do que o Brasil. A Ásia é o próximo grande alvo. O continente que é berço da maioria da artes marciais só recebeu neste ano um único UFC, mas Dana planeja conquistar em breve a China, o Japão, índia e Malásia. Sinal de que logo mais perderemos o posto de segundo maior mercado do MMA.

Restam três UFCs no Brasil neste ano. Todos em ginásios pequenos e sem grandes estrelas. Ninguém quer perder dinheiro, afinal as bolsas não são grande coisa e um atleta não luta mais do que quatro vezes num ano. Faltam bons salários, estrutura decente e menos burocracia para o MMA seguir forte como esporte mais arrebatador do Brasil no dias de hoje.

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